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Arquitetura após a COP30: o que os dados do Global Cooling Watch 2025 indicam para o setor

  • Foto do escritor: Pryscilla Zamberlan
    Pryscilla Zamberlan
  • 25 de nov.
  • 4 min de leitura


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A COP30, realizada em Belém, marcou um ponto de virada nas discussões climáticas ao colocar a arquitetura e o ambiente construído no centro das estratégias globais de adaptação ao calor extremo. Entre os documentos apresentados, o Global Cooling Watch 2025 ganhou destaque ao demonstrar que a transição para um futuro mais resiliente passa, necessariamente, pelas cidades e, sobretudo, pelos espaços que projetamos, aprovamos e habitamos.


Segundo o relatório, a demanda global por resfriamento mecânico - ar-condicionado, ventiladores etc., pode mais do que triplicar até 2050, impulsionada pelo crescimento populacional, maiores ondas de calor e o acesso a sistemas ineficientes, especialmente pela população de baixa renda.


O texto apresentado reforça uma mensagem inequívoca: a arquitetura deixou de ser apenas disciplina estética e funcional para assumir papel climático, energético e social. Edifícios, bairros e infraestruturas são agora vistos como elementos estratégicos na mitigação dos impactos negativos provenientes das emissões de gases e na proteção da vida humana frente às ondas de calor crescentes.

O report faz um movimento interessante: não apenas aponta caminhos, mas reorganiza prioridades. E, nesse movimento, a arquitetura emerge como um dos pilares dessa transição.



Design arquitetônico como primeira resposta climática


O relatório propõe um “Caminho de Resfriamento Sustentável” que poderia reduzir 64% das emissões projetadas chegando a cerca de 2,6 bilhões de toneladas de CO₂e em 2050. A diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen, afirmou que o resfriamento deve ser tratado como infraestrutura essencial, “ao lado de água, energia e saneamento”, pois o calor extremo se tornou uma ameaça global.


Um dos principais apontamentos do relatório é que as soluções mais rápidas e eficazes para reduzir os impactos do calor não dependem apenas de tecnologia, mas de um bom projeto. Como afirma o documento:

“As estratégias de resfriamento precisam começar pelo design de edifícios resilientes ao calor.”

Isso inclui desde a seleção de materiais e a orientação solar até a configuração volumétrica dos edifícios. Nesse contexto, o arquiteto assume responsabilidade ampliada: projetar não apenas para atender ao programa, mas para garantir conforto, eficiência e segurança climática.


Não se trata apenas de incorporar equipamentos, tecnologias ou certificações. É um convite (ou talvez um alerta) para revisitarmos o papel do projeto como primeira linha de defesa contra o clima.


Ventilação cruzada, sombreamento natural, escolhas de materiais, orientação solar: elementos conhecidos pelos arquitetos há décadas são recolocados como protagonistas em um mundo que precisa consumir menos energia para sobreviver ao próprio aquecimento.


É curioso como a solução, muitas vezes, não está em uma inovação tecnológica distante, mas no enfoque de princípios que sempre fizeram parte da boa arquitetura.



A legislação como aliada, não como barreira


Outro ponto relevante do documento endereça um tema que conhecemos profundamente: a força da regulamentação urbana.

“Códigos de construção eficientes são cruciais para conter as emissões.”

Isso significa que a arquitetura legal, muitas vezes vista apenas como etapa burocrática, passa a ser reconhecida como instrumento climático. A aprovação de um projeto deixa de ser apenas uma conformidade documental e passa a ser uma validação de eficiência energética, térmica e ambiental, e deve trabalhar de forma complementar às Normas de Desempenho.


E aqui há uma mudança cultural importante: as normas deixam de ser vistas como obstáculos e se tornam ferramentas de proteção urbana, capazes de reduzir riscos e orientar cidades para um futuro mais equilibrado. Projetos bem embasados, regulares e tecnicamente sólidos tornam-se requisitos não apenas para aprovar, mas para garantir sustentabilidade, eficiência e longevidade urbana.



Natureza como parte da solução e do projeto


O Global Cooling Watch também reforça algo que o urbanismo já vinha sinalizando, mas que agora ganha urgência:

“Arquitetura climática e natureza integrada são essenciais para cidades mais frescas.”

A presença de vegetação, soluções baseadas na natureza e estratégias de renaturalização urbana não são mais tendências isoladas, mas diretrizes globais. Fachadas verdes, aumento de permeabilidade, corredores de vento e áreas arborizadas tornam-se elementos obrigatórios para combater ilhas de calor e restaurar equilíbrio térmico nas cidades.


Não há resiliência térmica possível sem vegetação, permeabilidade e conexão entre o ambiente construído e o natural. Não se trata de “embelezamento”, mas de estratégia urbana.



O protagonismo do arquiteto na transição climática


Ao final do documento, o relatório reconhece explicitamente o papel transformador da profissão e uma frase resume a mudança em curso::

“Arquitetos são agentes centrais da transição de resfriamento sustentável.”

A atuação se expande para a esfera climática, energética e regulatória. O profissional passa a ser responsável por incorporar evidências científicas, indicadores de desempenho e estratégias urbanas que respondam ao cenário de aquecimento global. Isso exige visão interdisciplinar e domínio técnico cada vez maior sobre legislação, conforto ambiental, eficiência energética e impacto social.


O relatório reconhece explicitamente que projetar edifícios e cidades é atuar diretamente sobre consumo energético, emissões, saúde urbana e qualidade de vida. É uma expansão de responsabilidades mas também de novas oportunidades.



O compromisso que escolhemos assumir


A COP30 não inaugurou tendências, ela consolidou diretrizes. É um olhar redirecionado ao desenho, o licenciamento, as obras e a maneira como o mercado imobiliário cria valor. E é com essa visão que nós arquitetos devemos seguir contribuindo para cidades mais eficientes, mais seguras e mais preparadas para o futuro.


Na StudioT, atuamos justamente nesse ponto onde projeto, legislação e impacto ambiental se encontram. Nosso trabalho parte da convicção de que uma cidade melhor começa na forma como documentamos, aprovamos e materializamos cada edifício.



FONTE


United Nations Environment Programme. The free degrees - How sustainable, passive-first cooling

can save lives, money and food . Global Cooling Watch, 2025




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